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Rio - Paraguay
- Fritz Meier & Aldo Ferretti - |
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Em 1989, numa fantástica viagem de 1700 km, os pilotos Fritz Meier e Aldo Ferretti atravessam o Brasil de leste a oeste em dois ultraleves Fox II. A aventura começou no dia 11 de março... Enfim, naquela madrugada do dia 11 de março aparecem estrelas no céu. Nós acordamos o vigia do hangar do Clube Cirrus e empurramos os dois ultraleves FOX II, super pesados de tanta bagagem, para fora. Num vento fraco do norte, as nossas asas coloridas nos levantam do solo. Voando uma volta sobre o Clube Cirrus, checamos os rádios e nos certificamos do ajuste do centro de gravidade que se mostra perfeito, apesar da bagagem e da grande quantidade de combustível.
Até
Itacuruçá, voamos sobre terra. Em Angra dos Reis pousamos pela primeira vez. Adiante, um trecho longo de mais de duas horas nos separa do próximo destino Ubatuba - e transferimos nosso combustível reserva para os tanques das aeronaves.
No aeródromo de Ubatuba abastecemos pela primeira vez, embora nosso combustível fosse suficiente para levar-nos até Santos. Sempre é bom estar preparado para imprevistos. Logo mais estamos de novo no ar. O tempo está piorando, chove. A maré está alta e a praia utilizável sumiu. Mas, depois de uma hora e meia de vôo seria muito chato ter que voltar. Perto de Boiçucanga avistamos uma casa cuja área parece ter o tamanho exato para um "pouso de emergência". Aldo quer arriscar. Faz uma aproximação perfeita, toca o solo e... oh, não! Ele não corre nem dez metros, rodopia de repente e para com a asa direita no chão.
Passado o susto o chamo pelo rádio. Está vivo. O fim da viagem? "A pista é boa", ele responde. Apenas tinha caído com uma das rodas no único buraco da área toda, e que estava coberto de grama. Uma perna do trem de pouso está quebrada. Gente corre e ajuda a tirar o aparelho da "pista". Eu pouso também, sem problemas. Pelo menos estamos juntos. A situação temida, em que se faz um pouso de emergência onde o outro não pode aterrissar em segurança, não aconteceu.
Orgulhoso, Aldo saca a perna sobressalente que havia trazido, mas o sorriso se transforma logo numa expressão azeda-amarelada. A peça não tem os furos por onde deviam entrar os parafusos. Alguém aparece com uma pua e com muito suor conseguimos fazer os furos menores. A broca maior achamos na cidade vizinha. Até o pôr-do-sol o dano está reparado e os aviões ancorados nas estacas trazidas para este fim. O caseiro nos prepara um café e promete tomar conta com os cães durante a noite. Jamais teríamos esperado achar, nesta pequena cidade de Boiçucanga, um restaurante de um parisiense que tem Trutte Flambée au Kirsch no cardápio. Mas é assim que comemoramos, e com bons motivos: o primeiro dia de nossa grande viagem acabou com sucesso. Será que todos serão assim? Como esperado, o ar está parado quando intencionamos decolar de novo. A pista nos parece mais curta que no dia anterior. Resolvemos decolar com os ultraleves vazios e pousamos na praia para carregá-los com a bagagem. Aldo me confidencia depois que esse método foi a sua salvação. Ele tinha decolado sobre os arbustos a centímetros.
Nós tínhamos uma permissão telefônica para pousar no aeroporto militar de Santos. A torre nos guia na aproximação em volta de Guarujá e sobre o cais do porto. Na perna do vento, a torre nos chama de novo e o que soa do nosso rádio é uma proibição para o pouso. Ainda bem que isso não aconteceu no dia anterior, como era previsto no nosso cronograma, quase ao pôr-do-sol. Continuamos então até a Praia Grande, onde abastecemos do nosso combustível reserva. No início da tarde, o vento contra fica cada vez mais forte. Quase pairamos. Atrás da próxima ponta está chovendo, e, na frente dela, vento descendente e fortes turbulências nos esperam. Resolvemos pousar na praia.
A cidade chama-se
Peruíbe. O vento aumenta e culmina numa tempestade de areia.
Aldo leva o rádio e faz um reconhecimento da área
enquanto eu
Uma hora depois estamos de novo no ar, procurando o caminho entre as nuvens que chovem. Já estamos perto de Cananeias quando a chuva se torna pesada. A visibilidade está péssima e as gotas de água doem como pedras na pele. Temos que retornar e notamos pela primeira vez como é bom voar com vento de cauda.
Na frente do aconchegante Hotel Mariondas, pousamos. O dono, que estava se preparando para viajar para São Paulo, reabre o hotel com alegria. Enquanto o pessoal prepara um almoço, ele nos demonstra sua grande invenção, um gerador acionado por um motor VW a gás, que ficará ligado durante a noite toda para que possamos recarregar as baterias de nossos radiotransmissores. Depois de deixar a Ilha Comprida e contornar a vistosa Serra do Cardoso, sobrevoamos, sempre driblando a chuva, a região mais deserta que já conhecemos: a Praia da Laje, na divisa dos estados de São Paulo e Paraná, e a ilha de Superaguí. Uma longa travessia sobre água nos espera antes de atingirmos Pontal do Sul e Paranaguá, onde teremos que abandonar a costa.
15 de março. Queremos partir para recuperar o tempo perdido. José Luiz voa os primeiros quilômetros na nossa frente para mostrar o melhor caminho para sair da cidade de Curitiba, que já é bem maior do que nas nossas cartas novas, atualizadas em 1979. Mas a neblina no solo aumenta até se confundir com as nuvens. Quando se junta ainda à fumaça da refinaria da Petrobrás, a "sopa" fica impenetrável. Temos que voltar e decolar mais tarde.
Na parada seguinte, no aeroporto de Ponta Grossa, controladores e pilotos nos recebem com interesse e com a comovente cordialidade que já nos impressionou muito em outros lugares. Os ultraleves podem pernoitar num hangar de aviões pela primeira vez e num instante somos convidados para um jantar de primeira qualidade. Mais uma vez passamos por uma paisagem montanhosa. Seguimos a direção geral da estrada que faz uma infinidade de curvas e paramos a cada 1 a 2 horas em pequenas pistas de pouso, até Guarapuava. 0 último dia amanhece mais bonito do que todos os outros. Os baixios estão cobertos de nevoeiros iluminados pelo Sol nascente. Faz muito frio e voamos de luvas, o ar está parado até perto de 10 horas, quando os primeiros cúmulos pipocam no céu azul. Eles se multiplicam rapidamente até que nós dançamos violentamente pelo resto do dia, para cima e para baixo no ar agitado por fortes térmicas. Para evitar uma eventual colisão, definimos a estrada como limite de separação. Hoje, todas as paradas técnicas são bem-vindas para descansarmos um pouco, exceto a de Medianeira que é um forno protegido do vento por uma pirambeira de barro vermelho.
Mas o trabalho ainda não acabou por aqui. Nos dias seguintes, antes de voltarmos ao Brasil, ministramos um curso intensivo aos novos pilotos. Considerando este, mais os vôos até as cataratas de Foz do Iguaçu e para diversas fazendas, cada um de nós voou cerca de 4500 km. Os FOX II agüentaram ventos fortes, chuvas, turbulências, areia, pistas ruins, e provaram sua adequação para viagens mais longas.
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Data: |
11 de março de 1989 |
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Trecho: |
Rio de Janeiro/RJ/BRA Ciudade del Leste/PAR |
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Distância Voada: |
1.700 Km |
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Tempo Total de Vôo: |
23:10 horas |
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Aeronaves: |
2 FOX II |
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Pilotos: |
Fritz Meier e Aldo Ferretti |
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Fritz Meier |
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